quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

silencioso


O final da tarde é quase sempre a hora do acordar. Biológico time, acredito. As células sabem do que preciso – formando um universo de sistemas que tramam meu andamento.
  • Que tramem ao meu favor, sempre!
    Lá fora não há sol e se existiu foi quando meus olhos fechados, ainda no sono, brincavam de noite.
  • Isso, lembro-me que sonhei com ela. Aquela menina e suas botinas negras. E, dentro das botinas aquelas pernas, parecendo Medusa entrelaçando-me. Acho que virei pedra quando misturei-me à ela. Caralho!! E agora? Preciso encontrá-la!
Quando o gelado jato de água derramou-se por sobre sua coluna dorsal, o primeiro pensamento silencioso aconteceu. E tudo tornou-se imagem. As pessoas; o vulto dela entre os corpos concretos da sexta-feira à noite; ela... Ela parecia não ter chão! Movimentava o quadril esquerdo que cedia passagem para que a perna direita alongasse à frente, construindo assim, a leveza de um mover quase oriental. Foi ali, que a Medusa o ganhou. Foi no exato momento em que a noite do seu olho abriu-se para dar passagem; fresta que o universo entreabre à uma miragem arquetípica e mitológica e que em dado momento nos toma, se apossa do ponto mais profundo e misterioso, o qual desconhecido por nossa própria consciência, começa a ebulir, tal a imensidão do mar.
Escorria do céu um mar vertical.
  • São Paulo é assim – pensou. Um misto de Avalon e urbanidade; cidade que a esconde.